segunda-feira, setembro 26, 2005




Vento Levante

Quando sopra o vento levante
E nós vamos pelo areal
As marcas dos nossos pés
Leva-as o vento e o mar
O ar assim sufocante
Pinta a tua pele de bronze
E tece os pontos da tela
Salgada pelas gotas de água
Que o levante rouba às ondas

Quando sopra o vento levante
Ouve-se o som das sereias
Que contam histórias estranhas
De polvos e de baleias
E de homens que morrem no mar
E das mulheres que por eles esperam
Vestidas de negro a chorar

Quando sopra o vento levante
Há mais espuma no mar
Que fica na areia esquecida.
Tocas nela com os pés
Fazendo da espuma ar
Com ligeiros pontapés
Como que a dar voltas à vida

Quando sopra o vento levante
O próprio ar é mais leve
O sol é tão intenso
Que tens de fechar os olhos.
Cada duna é uma estrela
Tanta luz é escuridão
Usamos então o tacto
Para ver bem um ao outro
E para sentir a maresia
Abrimos todo o olfacto

Quando sopra o vento levante
O mar fica de outra cor
Azul cobalto temperado
Com carneirinhos de branco
Todos para o mesmo lado

Quando sopra o vento levante
De mãos dadas no areal
Sinto-me mais teu amante
Teu cúmplice, teu igual

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