segunda-feira, maio 08, 2006


Era um truque

Era um truque que resultava sempre: cravava as esporas o mais à frente possível, puxava as rédeas com força e o cavalo levantava as patas da frente, empinando-se com garbo. Claro que o animal não gostava, as esporas furavam a pele, os arreios massacravam a boca. Porém, os miúdos da aldeia regozijavam quando o viam de espada no ar, a capa negra ao vento, a máscara misteriosa, e ele , todo elegante em cima do imponente cavalo .

Além disso, quando era perseguido, os pobres soldados intimidavam-se, naturalmente.
O número era impressionante e, claro, ninguém gostaria de levar uma patada do animal.
Contudo, ultimamente as coisas pareciam correr mal: sentia-se cansado , pouco reconhecido mesmo pelos índios e colonos, os pobre diabos a quem dedicava o seu esforço, a sua luta pequena .

E pior de tudo, a sua luta grande , aquela pelo coração de Helena , corria ainda pior. Ela continuava igual a si própria, altiva, longinqua, fria, olhos no chão. Nada do que fizesse lhe despertaria um riso, um ai, uma lágrima .

Foi assim, com tristeza e raiva que nesse fim de tarde , após uma dessas loucas correrias fugindo aos guardas do governador, quando chegou à casa de Helena, em frente à janela do seu quarto, na praça poeirenta e pejada de crianças excitadas, resolveu fazer o número do cavalo empinado.

Porém , nessa tarde, o cavalo em vez de empinar-se garbosamente, deu um pinote feio , com as patas traseiras.
O cavaleiro tombou, pesadamente, felizmente não se magoou. Mal se levantou olhou para a janela e viu Helena espantada de boca e olhos bem abertos.

Não teve outro remédio senão fugir a pé , assustando os miúdos com sons guturais, ridículos. O cavalo, esse galopou durante horas sòzinho ao longo do oceano, pela areia da praia.

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