terça-feira, julho 04, 2006


Os medos das meninas (4)

Este medo era um medo pouco vulgar. Era medo de pessoas. Bem, se fosse medo de pessoas seria um medo vulgar, as pessoas têm medo de pessoas, seja ela ladrão , chefe ou polícia, se bem que também tenham medo de bichos, espíritos e do futuro. Na realidade o que esta menina tinha era medo de imagens de pessoas. E isso era terrível para a sua profissão pois ela era fotógrafa.

Com base em informações por ela prestadas, os médicos tinham diagnosticado com facilidade a causa do seu problema: falta de afecto na infância por parte dos pais, sempre longe dela, longe um do outro, gélidos para com ela, gélidos um com o outro.
Ela pagou com a mesma moeda: logo que foi possível saíu de casa deixou a cidade onde vivia, que era cidade que tinha a praça mais bonita do mundo.

Tirava fotos de ruas, de pedras, de montes, de flores, de terras, mas nunca de pessoas. E pior do que isso, sempre que por inadvertência aparecia uma pessoa numa foto por ela tirada entrava em pânico, destruía a foto como que para eliminar uma prova comprometedora.

Até que um dia preparou-se para tirar a foto que sempre tinha sonhado: da praça mais bonita do mundo, na sua cidade natal, com o raio de sol mais bonito do mundo, à hora mais feliz do mundo.

Porém quando reparou na imagem viu que dois vultos apareciam num dos lados da imagem. E beijavam-se.

Horrorizou, a foto por que tinha esperado tanto estava adulterada, e logo por um casal de amantes.

Preparava-se para destruir a foto qundo reparou nos vultos, esses sim,destruidores.
Pasmou: embora a foto fosse banhada por um nevoeiro artístico ela reconhecia sem dificuldade aquelas silhuetas: seu pai e sua mãe, abraçados na sua cidade querida, à hora mais feliz do mundo.

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