quarta-feira, fevereiro 13, 2008




A Tabacaria




Daqui a muito tempo,


Muito depois da tabacaria da esquina fechar


Depois da tabuleta que diz "Tabacaria" cair


Depois do homem que assomava à minha janela desaparecer


Quando já não houver essa janela nem nenhuma janela


Quando já não houver rio, nem cidade, nem sequer colinas


Nesse tempo (ou nesse espaço)


Um computador gigante à escala nanométrica


Terá no disco duro a memória do dia


em que o Esteves saíu da Tabacaria


e alguém gritou "Adeus ó Esteves !"




Nesse computador estará a memória do teu sorriso


Do tom da tua voz,


Do modo como molhas o dedo para virar as páginas




E também a memória de todas as canções que se cantaram


de todas as frases que se escreveram,


mesmo as inocentemente tontas, como estas




E também a minha memória das coisas que não foram


e do que neste momento sinto ao escrever e ao pensar en ti


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