domingo, março 05, 2006


Já atravessámos

Já atravessámos alguns rios
Já passámos algumas pontes
Fomos de uma margem à outra
Olhando a água a correr por baixo.
Passámos o Iguassu verde, revolto
Com ruídos ensurdecedores
Onde todo o ar é espuma
E toda a espuma é água
Encharcando quem se aproxima
Pejado de jacarés, ameaçadores
Já atravessámos o Tejo, azul
Sulcado por gaivotas que são cacilheiros
Atravessámos o Hudson, cinzento
Olhámos os megalitos, desafiadores
Do lado de lá de Metropólis.
Tudo isso fizémos de mãos dadas
(é bom passar pontes de mãos dadas)

Mas eu , sózinho, com o vento que corta a pele,
Triste e durante noites a fio
Passei o Potomac, onde os índios felizes navegavam
Para vender coisas ao Homem Branco
No tempo em que os rios eram as únicas estradas
E tudo parecia fácil
E não eram precisos faróis.

Mas agora, tudo é diferente:

É melhor dar as mãos
E buscar a luz dum farol
Pois faltam passar muitas pontes

Um comentário:

Edilson Pantoja disse...

Meu caro Rui, não tenha dúvidas de que o prazer maior é meu. Você é um tremendo artista e muito me lisonjeia recebê-lo neste Albergue. Fique, pois, à vontade para explorá-lo bem. Quanto a nossos "Homem do Farol", que interessante, não? De fato, há pontos em comum entre eles, muito embora, para este meu, a palavra "ilha", como você verá, já não tem o sentido usual. Mas tenha certeza de que considero a descoberta de seu trabalho um dos grandes acontecimentos deste novo ano. Algo realmente formidável, e o que é interessante, executado em silêncio, aparentemente, para uma pessoa só, é verdade? Tenho certeza de que os demais visitantes do Albergue vão concordar comigo quanto à qualidade de seu trabalho.
Um forte abraço!
Edilson.