sexta-feira, maio 26, 2006


Os medos das meninas (1)

Era uma vez uma menina
Em tudo igual às outras meninas
Bonita, alegre de pele fina
Que brincava no jardim
Saboreando as longas horas dos dias de Sol


Brincava também com rapazes
Mas são queria intimidades
Pois eles eram desajeitados, incapazes

Quem a conhecesse de um modo superficial
Diria que era uma menina perfeitamente normal

Mas dentro dela havia algo que só ela sentia
que estava presente cada minuto de cada hora
e que há noite os seus sonhos invadia

Ela tinha medo do fogo
e de tudo a que a ele se referia:

Medo do fósforo, da fogueira, do isqueiro,
dos foguetes, dos fogachos, das chamas
Do forno, dos churrascos, do bombeiro
Pois só há bombeiro porque há flamas

De uma chispa no palheiro
De faíscas no São João,
Dos pinhais secos
Duma ponta de cigarro no chão
Das searas a ondular com o vento de Verão

Assim foi vivendo a menina
Recusando o Verão, ansiando o Inverno
Até que um dia, tranquila, entendeu
Que tinha perdido o medo das labaredas do inferno

2 comentários:

Inês Lima Azevedo disse...

Pois é. Ao acordar de manhã a menina pensava nos medos que tinha de noite. Pele macia, cara fina e mais pequenas, olhava para as bonecas com desdém, fugia dos fósforos como niguém. Mas o medo e esse reflexo de abismo, têm uma luz que afugenta mas encanta. Brincar com o fogo queima. Dizia a mãe. Olha que quem brinca com o fogo logo que ateia, lembrava o pai. E no meio destas reprimadelas carinhosas, o Verão era temido, e, de todos protegida, crescia a menina, pele branca, mãos macias, colo bonito. Vá, continua as histórias, estão a ficar cada vez melhores.

sa.ra disse...

vou ficar à espera para saber o que aconteceu à menina que perdeu o medo das labaredas do inferno?

qual inferno, já agora?

(não se faz isto... inquirir o poeta... mas o poeta, só explica se quiser, não é?)

dia muito feliz!