terça-feira, junho 06, 2006

Os medos das meninas (2)


Esta é a história de uma menina que não tinha medo do escuro, nem tinha medo da água, nem tinha medo dos cães. Tinha medo do chão. Exactamente aquilo que para as outras pessoas parece o mais firme, o mais seguro , o mais sólido, era o que lhe metia medo.
Os primeiros sintomas apareceram quando, ainda bébé, se recusava a pisar a areia da praia. Torcia os pézinhos pequenos, levantava as pernitas e fazia caretas de desagrado. Os pais, jovens que cultivavam a educação liberal sorriam despreocupados. Também a relva, que deixava nos pés aquela sensação de humidade pegajosa era insuportável.
Com o tempo qualquer tipo de chão se tornou desagradável: os passeios, as estradas, os trilhos, os tijolos, as subidas, as descidas, os solos pedregosos, os solos argilosos e mesmo a calçada portuguesa. Pura e simplesmente não gostava de pisar nenhum tipo de chãopois tinha o medo a ele ficar colada . Então quando tinha que caminhar , (porque as pessoas têm de caminhar) quase não assentava os pés no chão, saltitava, dava pequenos pulos, levitava.
Claro que os médicos não se interessavam sobre esta patologia, distanciavam-se, sorriam, explicavam que a causa era o stress e receitavam a última gama de calmantes disponível no mercado.
Um dia um amigo, homem mais velho e experiente disse: "Para mim o teu problema é simples, tens medo que se assentares bem os pés no solo te cresçam raízes". Foi como que uma revelação para ela! Desde pequena que aquele pesadelo a perseguia: quando parava em terminado local não podia mexer os pés que rapidamente de encontravam presos por raízes que cresciam a grande velocidade. Em seguida ela transfomava-se numa árvore, quase sempre um sobreiro, uma daquelas árvore que não se movem. Finalmente tinha percebido as razões do seu problema! Mas a cura? Perguntou ao amigo, como posso curar-me? "É fácil", respondeu ele: "O segredo está numa planta, não uma planta de ervanária mas simplesmente a planta do teu pé. Tem um ponto muito sensível debaixo do dedo grande ( aquele que tem nome noutras línguas , mas não na portuguesa). Uma ligeira pressão nesse ponto, durante aproximamente um minuto e estarás curada."
Assim foi, ele pressionou e a menina agora já pode andar normalmente , assentando os pés no chão, sem medo de ficar tolhida pelas raízes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Disseste-me: a primeira vez que eu te vi, não punhas os pés na terra...ensinaste-me a andar, a cair, a levantar-me outra vez, e sobre tudo a andar com a cabeça mais alta. Não esqueci.