quarta-feira, junho 07, 2006


Os medos das meninas (3)


Esse medo apareceu repentinamente, já na idade adulta. Foi no dia em que ela acreditou que se tinha tornado invisível.
Estava numa festa, numa roda de amigos, todos eles com um copo na mão. Ela resolveu fazer uma observação apropriada, bem integrada na conversa e esperou a reação. Foi nenhuma.Não chegou a entender se a tinham ouvido e pura e simplesmente ignorado. Reparou apenas que ninguém a olhava, que nem um só olhar se cruzava com o seu.
Nessa noite sentiu, pela primeira vez, uma enorme angústia.
A confirmação veio alguns dias depois, durante uma reunião profissional. Por sete vezes tentou dizer algo, balbuciou umas sílabas, mas logo outro colega cortava a sua voz indecisa, fazendo a frase voar em pedaços.
A prova final, definitiva, veio durante o jantar com um pretendente, rapaz bonito, educado, sensual mas discreto. Foi terrível. Durante todo o jantar o rapaz falou mas não a fixou um só momento, o seu olhar atravessava-a como se em vez se carne, ossos, cartilagem ela fosse vidro e só vidro.
Nessa ocasião ela teve um ataque de pânico incontrolável. Era evidente que, sem saber como nem porquê, por vezes se tornava invisível.
Agora ela tinha vergonha de falar de se dirigir às pessoas, de aparecer. Só queria um buraco onde se meter.
Falta dizer que a rapariga era bonita, atraente, tinha um corpo perfeitinho, bem proporcionado.
Um dia de Verão estava em casa lendo o romance "o homem invisível", e teve uma ideia.
Meteu-se no carro e dirigiu-se à praia mais concorrida, aquela onde se juntam os rapazes a jogar à bola, as famílias com crianças que choram, casais que leêm revistas.
Despiu-se completamente, dançou nua no meio da multidão, uma louca dança africana e entrou na água certa e segura que ninguém a via.

Um comentário:

Inês Lima Azevedo disse...

;uito, muito muito bom-